Protegida pela escuridão
deitada em minha cama
eu vejo
em frente a minha vidraça
no outro lado da rua
várias janelas ali uma discussão familiar
uma mulher se despindo
percebo um pedido apaixonado de casamento
mais adiante um ritual demoníaco
a morte espreitando uma cama
um chuveiro ligado
um jogo de truco
um cigarro fumado no escuro
um brinde com vinho tinto
reunião de condomínio
viagem sendo planejada
mais acima uns caras concentrados pra uma festa
e mais adiante um testamento sendo lido
vários televisores ligados
alguns telefonemas sendo dados
mensagens sendo lidas em celulares
mentiras sendo ditas junto ao ouvido.
no primeiro andar uma mulher deita sozinha numa cama de casal.
sem minhas lentes e sem binóculos
impossível ter certeza se estão felizes
todos aqueles que estão do outro lado do parque
à poucos metros da minha solidão. A recíproca dos vizinhos é verdadeira.
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