DESIMPORTANTE

Porque me tornei assim estreita?
Assim impossível de asas?
Assim cautelosa de falas?
Acanhada, espreitada, assustada
Pequena.
Fiz de mim uma ameaça.
Fiquei muito recuada.
Muito distante da linha da proximidade
Fiquei pra trás, na linha da defesa, esquiva, recuada.
Com medo de qualquer baque qualquer queda
Fui aos poucos desistindo
Repondo as coisas nos lugares
Deixando de escolher por mim mesma
Perdendo a força
Fui esquecendo, cedendo.
Fui calando a boca e o coração
Transformei-me em bicho acuado
E assim fui ficando no meu canto
Amordaçada
Acostumada às minhas amarras
Aprendendo a suportar meus limites
A desusar minhas garras
Jamais demonstrar emoção
Ocultar desejos
Fui ficando cada vez mais sem imaginação
Cessei até as fantasias.
Aceitando as pedras, a pena, a tortura
Assistindo assustada a metamorfose
Almejando o esquecimento.


Então fui ficando assim quieta


E se é justo...
Nunca mais de discutiu.