
...foi na chegada da viagem que ela conheceu a bichinha; era madrugada e como lagartixas são seres da noite não poderia ser noutro horário . Lá estava ela perto da cortina no alto da janela, era esbranquiçada, mas foram os olhos o que mais lhe chamou a atenção: duas bolinhas brilhantes. Pareciam questioná-la; estava muito cansada e optou por apenas enfiar-se na cama e no limbo que permeava seu raciocínio há semanas. Na segundo dia quando o quarto se iluminou,lá estava ela quase no mesmo lugar,sim era ela, não tinha a menor dúvida. Nenhuma reação, a não ser, parece-lhe, os olhos :mais estatelados. Ficaram ali as duas novamente se olhando, corações acelerados; decidiu não ouvir as perguntas que a bichinha parecia lhe fazer e preferiu escorregar para baixo do ededron e no silêncio que instalara-se em sua vida. Logo estava sonhando.
Na terceira noite...
depois do dia rotineiro e entediante, antes de chegar ao quarto que ela lembrou-se da lagartixa.Entrou sem acender a luz e forçou a vista em direção a janela, procurando-a; não estava lá. Ficou deitada na cama, no escuro quebrado apenas pelas luzes da rua que emprestavam um falso brilho às falsas estrelas coladas no teto. dessa vez não dormiu, resolveu dar respostas aos questionamentos que insistiam em fazer sua cabeça latejar. Nos últimos meses seu universo particular reduzira-se a uma distãncia infíma,suas expectativas não encontraram respaldo, sua imaginação não achara fertilidade e as possibilidades da vida retomar o antigo passo, além da fronteira da ilusão aumentara considerávelmente. Protegida pelas sombras,sabia que chegara a hora de fazer sua escolha, foi então que no lusco- fusco, na parede percebeu o movimento. A lagartixa branca de olhos grandes espiava-a do teto. O que ela considerou um sinal de sorte.