ELAS

Não,
não sou eu que as uso, elas que se utilizam de mim..elas são geniosas e se divertem com minha ansiedade em caçá-las.
Na minha insônia tento agrupá-las, mas elas se misturam, se camuflam, se mascaram, insidiosas, se insinuam, me enlouquecem, nunca cedem.
Ontem elas estavam todas ali e me olhavam sorrateiras, escorregadias, cochichavam, me espreitavam na espera de minhas atitudes.
Estavam todas ali reflexivas. Depois dançavam e balançavam esquisitas, exibidas, duvidosas.
Queriam que eu as pegasse. Que as esfregasse com força, que as colocassem na palma da mão. Que eu as amasse, odiasse queriam me fazer chorar. Olhavam-me e reluziam indiferentes, viciadas, confusas, perdidas.
Mesmo no silêncio da madrugada não davam trégua.
Por fim acabo me entregando cansada, extenuada, exaurida, veiculo de sua vontade, deixando então de lado minha própria vida. Fico penalizada com tanto empenho.
Acendo a luz e as encaro, faíscam e somem, como certas estrelas. No fundo eram inseguras, frágeis, medrosas.
No fundo eram pequenas, volitivas e conhecidas.
Depois de um tempo se estragaram, envelheceram, perderam a cor, a graça, o sentido,o brilho,o encanto.
Agrupadas não tem mais nenhum significado.
Tentam se enfeitar mas se tornaram repetitivas.
Indizíveis, sem tradução, nunca sussurradas.


Elas
São somente...
Palavras...
 em estado de dicionário.