APARÊNCIAS



     Nas segundas feiras ele veste uma camisa Pólo branca. Porque está em paz. Fez promessas quando acordou: parar de fumar, parar de beber, curar as feridas do final de semana.
     Nas terças a azul clarinha, aquela que tem uma listra. Porque ele está indiferente, na dele. O mundo que gire sozinho, ele não vai mover uma palha. Na quarta uma amarela, do Fidel,  “Viva la vida diet”, porque está indignado. Satirizar esse capitalismo galopante ainda está na moda. Na quinta a preta do Led porque amanhã  é sexta e ele está de ótimo humor, os amigos estão por perto e o “irmão” está esperando.
Talvez uma festa...uma viagem. A noite ainda é só uma promessa.
     No sábado uma social, com botões. Aquela que mais combina com o sapato que combina com o cinto, que combina com a companhia, que combina com o lugar que ele vai. Muitas vezes, só na madrugada é que ele se dá conta que essa nada a tem ver com ele. No domingo.....depende de onde ele acordar. Talvez a mesma da noite anterior.
       Mas não é sua aparência que o define. Nem a nudez de seu corpo. Tente entendê-lo nos raros momentos que ele  desnuda  a  própria alma. Não tente julga-lo pela camiseta que usa.
 Não é uma roupa que vai revelar seu conteúdo, sua atitude.
                       Porque ele é uma indefinição vestida e muito bem disfarçada

E eu o conheço muito bem.
Depois a semana recomeça.