EDUARDO



O que eu amo em ti
Não é esse teu jeito de colocar o cabelo atrás da orelha. Também não é o teu cabelo.
Não é esse teu olhar de seis da tarde
Não é essa tua mania de andar com as mãos nos bolsos
Não são tuas mãos, nem tampouco são as tuas unhas roídas.
Nem mesmo é a tua educadez.
O que eu amo em ti
Não é essa tua boca de cerveja
Nem teu beijo
Que cada vez sabe mais coisas,
E é sempre tão beijável.
Não é teu violão. Tocas. E nem é isso.
Nem a música que escrevestes pra mim.
Nem são os livros que lestes, nem mesmo o que sabes ou o que não admites saber.
Não é tampouco teu ambicionismo ou tua letra miúda. Nem a doçura, nem mesmo teu cheiro, não, não é isso o que amo em ti.

O que amo em ti,
Não é tua preguiça, teus bocejos.
Não são os silêncios de que és feito
Nem tua tagarelice
De quem sempre sabe tudo
E o tudo é tão simples
Não é o que aprendi contigo:
Viver cada dia como se o mundo fosse acabar, como se fosse o ultimo. Mandar a sociedade se fuder.Não é a oportunidade que me destes de conhecer a insanidade. De fugir da mesmice e do lugar comum, de conhecer a aventura e o inédito. A ousadia, de me sentir menina e mulher.

O que eu amo em ti
Não é o mistério que te povoa
Não é esse ar letárgico, trágico, místico.
Não é teu jeito de sentar e cruzar as pernas, ou acender um cigarro somente para por um pouco de fumaça e névoa entre ti e o mundo.
Não é tua voz às vezes cruel, às vezes sábia que preenche os brancos da minha cabeça.
Nem mesmo é tua espiritualidade,
 tua força,
 tua certeza
 ou tua fragilidade.
Não, não é nada disso.
Nem mesmo tua risada que me traspassa o ouvido com gosto de aventura.
Não é o amor e a consideração que tens por teus amigos
Não são teus cds.
Não é o teu reflexo no espelho.
Não são teus projetos.
Nem teu corpo plástico, cheio de vibrações.
Não é bem isso
Não é tua ausência
Não é o que refletes de improviso
Não é tua maturidade
Nem tua criancice
Nem o inesperável
Nem aquilo que eu nunca vou ter de ti.

O que eu amo em ti
É a tua loucura.
Porque ela é contagiosa
 e contagiante.