DÉJÀ VU


Papo tranquilo
flui sem remorsos,
 por trás de uma mesa num arranha-céu.
 Destreza de sobra prá
pintar um quadro da situação,
 com a conciência na gaveta.
 Sem ter nada a perder,
com a certeza da impunidade,
sentado fente ao porta retrato.
 Corpo blindado.
Coração embalsamado.
 Lógica pessoal. Memórias envidraçadas. Lembranças cristalizadas.
Fácil indicar caminhos a seguir
 com GPS do Paraguai.
Moleza contra atacar
no gatilho de um teclado.
Planejar no brilho azul
da tela de um computador.
Sem o odor
Sem o som
Sem a sensação
Sem as digitais
 Sem hálito invernal
Sem ter estado na pele
Sem precisar olhar prá trás
pra ver o que restou.
Se isentando de pagar
pelos erros que cometeu.
Distância dá coragem
 prá palpitar
estender a mão
 oferecer ajuda
sentir saudade
questionar
fazer previsões
 imaginar condições ideais.


 Outro tempo
   Outro lugar
      Outro déjà vu.